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O presidente francês, Emmanuel Macron, virá ao Brasil, esta semana, para uma série de agendas ambientais, políticas e estratégicas. Mas um dos principais assuntos de interesse do Brasil — o acordo entre o Mercosul e a União Europeia — continuará sem negociação.
Isso porque, mesmo se abordada pelos líderes, a temática não encontrará terreno para avanço. Além do país europeu não estar disposto a assinar o acordo, o assunto é conduzido pela Comissão Europeia. Os dois blocos tentam firmar o pacto comercial há mais de duas décadas.
No ano passado, a França estava na presidência da União Europeia, assim como o Brasil ocupava a do Mercosul, mas as negociações não foram concluídas porque Macron impôs novas condições. Em sua visita, o presidente francês deve reexplicar a Lula os motivos de sua negativa.
“A assimetria entre os países dificulta a negociação do acordo. A França quer manter um alto grau de protecionismo em relação ao mercado interno, mas quer exigir como contrapartida que o Brasil reduza seus índices de proteção e se abra comercialmente para os produtos franceses. Esse é o impasse. A pauta econômica é marcada pela assimetria entre os dois países e, portanto, tem mais arestas”, aponta a professora de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart.
Márcio Coimbra, presidente do Instituto Monitor da Democracia e vice-presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), opina que a agenda é positiva para ambos os países se bem usada pelos dois líderes. O especialista ressalta que, apesar de o acordo com a União Europeia ser um dos principais esforços de Lula, é difícil que a França mude de ideia por conta do intenso lobby dos produtores rurais que impedem o acordo de avançar.
“Há uma mobilização popular grande na França e é um tema polêmico que mexe em privilégios, em subsídios, acesso a mercados especialmente no setor agrícola. Geralmente os presidentes tendem a ceder a essas demandas. É muito difícil que o acordo Mercosul e União Europeia avance, a não ser que o Brasil também esteja disposto a entregar alguma coisa, o que não deve ocorrer. Esse é um ponto que realmente tende a não avançar”, pondera.
Apesar da aproximação entre Macron e Lula pós governo Jair Bolsonaro, França e Brasil estão em lugares diferentes dentro do jogo da geopolítica internacional, acrescenta.
“O Brasil preferiu se alinhar à Rússia, à China e a outras autocracias que estão dentro do clube dos Brics, ao passo que a França se aliou às democracias. Estamos em um lado antagônico desses dois grupos que duelam no mundo. Vemos a França planejando enviar tropas à Ucrânia, o que pode provocar uma escalada do conflito, enquanto o Brasil possui uma tendência pró Rússia, os países estão em blocos antagônicos”, diz Coimbra.
Contudo, há parcerias importantes em diversos temas que serão tratados nos protocolos dessa visita de estado. “A viagem busca estreitar relações. Acredito que será benéfica para ambos os lados. Vamos ver se efetivamente avança em temas sensíveis e importantes para os dois países”.
A professora de direito internacional da Universidade de São Paulo, Maristela Basso reforça que a visita de Macron busca estreitar as relações bilaterais que retrocederam no governo Bolsonaro. “A França é um dos melhores parceiros do Brasil. Aqui estão mais de 850 empresas francesas. A França é o maior empregador estrangeiro do país, com a geração de aproximadamente 500 mil empregos.
Com Lula, Macron deve tratar de questões importantes como a reforma das organizações multilaterais, da agenda do Brasil para a presidência do G20, da entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Ademais, Macron quer ouvir Lula sobre a Venezuela e o Haiti, como também sobre a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza”.
O presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington, Rubens Barbosa expõe que a visita tem teor diplomático e que, apesar de não haver um tema prioritário, a área ambiental e energética, a relação comercial e as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza estarão entre os principais assuntos.
“Não vai haver negociação sobre o Mercosul, nem encaminhamento sobre a guerra. O PT publicou no site do partido uma nota de saudação à reeleição de Putin. Não vai mudar de posição. Cada país vai expor sua visão, mas não haverá nenhum avanço. Os destaques estão na área ambiental, na nova política industrial, energia verde, transição energética, onde o Brasil desponta e tem muita coisa que pode ser feita conjuntamente. É uma visita importante. Desde 2016 que um presidente francês não vem ao país”, lembrou.
A França ocupa a posição de 3º maior investidor no Brasil, pelo critério de controlador final, com cerca de US$ 38 bilhões investidos. Em 2023, a corrente de comércio bilateral alcançou US$ 8,4 bilhões, com US$ 2,9 bilhões de exportações brasileiras. Entre os acordos discutidos, um — sobre a troca (e proteção) mútua de informação e cooperação — é prioridade para o Governo Federal.
Também há outro protocolo de intenções de investimento da ordem de R$ 100 milhões de reais entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco da Amazônia e a AFD, que é a Agência Francesa de Desenvolvimento. O Centro Franco-Brasileiro de Biodiversidade Amazônica é outro destaque nas negociações.
Macron terá agenda em Belém, na terça-feira (26); depois Itaguaí/RJ e São Paulo/SP, na quarta; e, por fim, em Brasília, na quinta.
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