Dra. Madalena Santos explica por que o combate precisa ir além da balança
O dia 11 de outubro marca o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, uma data criada para lembrar que o peso do problema vai muito além da balança.
Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica, progressiva e multifatorial, a obesidade deixou de ser uma questão estética para se tornar um dos maiores desafios de saúde pública global.
“Obesidade é doença! Não é falta de força de vontade. É uma condição complexa, que precisa ser compreendida, tratada e acompanhada com seriedade”, Afirma a médica nutróloga Dra. Madalena Santos, conhecida nacionalmente como Dra. Magra por unir ciência e empatia em sua abordagem ao emagrecimento.
O retrato do país hoje
Há doenças que doem em silêncio e outras que pesam — literalmente.
Antes vista como mera questão estética, a obesidade hoje figura entre as principais ameaças à saúde pública mundial.
De acordo com o Vigitel Brasil 2023, 61% dos adultos nas capitais estão acima do peso e cerca de 22% já vivem com obesidade.
Desde 2006, quando menos da metade da população apresentava IMC elevado, o número não parou de crescer — um aumento de quase 80% em menos de duas décadas, segundo o Ministério da Saúde.
Se nada mudar, mais da metade dos brasileiros adultos poderá ter excesso de peso até o fim da década, alerta a OMS.
“Vivemos uma epidemia de obesidade. A população precisa entender que ela é uma doença e deve ser tratada com acompanhamento, informação e, principalmente, sem culpa”, reforça a Dra. Magra.

De onde viemos e para onde vamos
Entre 2003 e 2019, a obesidade mais que dobrou no Brasil, segundo o IBGE.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) mostra que o índice passou de 12,2% para 26,8% entre adultos, com crescimento mais acentuado entre mulheres e pessoas com menor escolaridade.
No cenário global, o World Obesity Atlas 2025 projeta que, até 2030, o planeta terá 3 bilhões de adultos acima do peso, sendo 1 bilhão com obesidade.
No Brasil, estudos recentes indicam que quase 7 em cada 10 brasileiros já apresentam IMC elevado — somando sobrepeso e obesidade.
“Não existe gordo saudável”, alerta a médica.
“Podemos ter exames aparentemente normais por um tempo, mas a obesidade é um processo inflamatório silencioso que mina a saúde aos poucos.”
Consciência x realidade
Todos sabem que é preciso comer melhor, dormir bem e se exercitar.
Mas entre o saber e o fazer existe um abismo chamado rotina.
Longas jornadas de trabalho, o alto custo dos alimentos frescos e a avalanche de produtos ultraprocessados tornam difícil escolher o saudável.
Hoje, apenas 22% dos brasileiros consomem frutas e verduras regularmente, e 35% são considerados sedentários, aponta o Vigitel.
“Conscientização sem condições concretas vira culpa”, diz a Dra. Magra.
“É preciso facilitar o acesso à comida de verdade, incentivar o preparo caseiro e criar ambientes que promovam movimento. Isso é política pública — e também gestão de vida.”
O olhar clínico: o tratamento precisa ser individualizado
Para a Dra. Madalena, o tratamento da obesidade deve ir muito além da dieta e do exercício.
A nutrologia permite investigar o corpo por dentro, compreendendo as causas orgânicas, hormonais e metabólicas que dificultam o emagrecimento.
“Não é só comer menos e se mexer mais. É entender o corpo, os hormônios, o sono, o intestino, o estresse. Cada pessoa tem uma história metabólica diferente, e o tratamento precisa respeitar isso.”
Na prática, o cuidado inclui avaliação médica detalhada, exames laboratoriais, ajustes nutricionais e, quando necessário, farmacoterapia ou cirurgia metabólica — sempre com acompanhamento empático e contínuo, sem modismos ou julgamentos.
Mitos e verdades que travam o emagrecimento
Durante anos, o carboidrato foi injustamente apontado como o vilão da dieta.
Mas, segundo a médica, o verdadeiro obstáculo está em outro lugar:
“O carboidrato nunca foi o inimigo. O que realmente trava o emagrecimento é a inflamação, a resistência à insulina, o desequilíbrio intestinal e emocional. O segredo está no equilíbrio e na constância.”
Ela também destaca o poder do ambiente sobre o comportamento alimentar:
“O ambiente em que você vive pode ser o impulso ou o gatilho. Se você se cerca de pessoas que te incentivam, cozinha mais e se movimenta, o corpo responde.”
Por que o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade importa
A data foi criada para mobilizar a sociedade e os gestores públicos, lembrando que obesidade não é falha moral.
É uma doença crônica e tratável, que precisa de empatia, ciência e acolhimento, não de culpa ou vergonha.
“Enquanto o preconceito persistir, muita gente vai deixar de buscar ajuda por medo do julgamento. Precisamos de informação e tratamento médico adequado”, reforça a Dra. Magra.